segunda-feira, janeiro 14, 2008

After all, we’re alive!!! - Considerações filosóficas (ou não) sobre uma noite vimaranense

Confesso que várias vezes me queixei da falta de oferta nocturna de qualidade em Guimarães, e reconheço agora, que a maioria das vezes falava sem razão.
Sexta-feira, 20.00h, saí em direcção ao Centro Histórico, e lambuzei-me com uma francesinha num restaurante em plena Travessa da Tulha, onde para gáudio dos que me acompanhavam, não se podia fumar! Saí de lá com um tremendo cheiro a fritos, porque o dono do dito tasco se recusa a pôr um extractor de fumos. Ainda bem, pensei eu! Pelo menos a minha roupa não cheira a tabaco!
Aligeirados no passo, só possível porque todos nos privamos de fumar passivamente, dirigimo-nos ao renovado São Mamede, para ver Clã. Tremendo concerto!
Bestial Manuela Azevedo, brutal quinteto de acompanhantes! A, já não tão jovem interprete, deu show de bola, usou os seus melhores trunfos (voz, simpatia e expressão corporal) para contagiar o publico, não se privando de conversar com este ou aquele, respondendo aos desafios, justificando isto, brincando com aquilo, intervalando com o extenso e fantástico repertório que o grupo já produziu. Um ambiente intimista só possível em salas assim. Os músicos do melhor que o nosso país “pariu” até agora. Vi o concerto em pé na plateia numa sala bem composta, sem estar cheia. Chovia no palco, mas até isso deu a sua graça a um concerto memorável! A acústica pareceu-me irrepreensível.
Fora da sala, mas ainda dentro do São Mamede, vi uma recuperação do espaço bem conseguida, com bom gosto, boa musica, caras bonitas e por ali fiquei até fechar, tentando justificar a um amigo a minha absurda teoria: considerar o Alan como um dos melhores jogadores do Vitória, não significa ser um teórico da bola! Não consegui, e rumei derreado pelo peso das evidências, ao Pandemónio. Chegado a este baluarte da noite vimaranense, comecei por constatar que o incremento de carreiras nocturnas da Arriva dos arrabaldes para o centro, é inversamente proporcional, à qualidade do ambiente dos espaços nocturnos. Aqui não atingiria o pico registado mais à frente na noite, mas mesmo assim notava-se já, e para meu gáudio pessoal, que a rede de transportes públicos funciona e bem na nossa cidade Berço. Registei com agrado, que tendo o responsável optado pela não discriminação de ninguém, o piso da placa azul registava uma afluência na razão de 40 para 4 (literalmente) em relação ao do dístico vermelho. Os saudáveis já deviam estar fartos do cheiro a fritos na roupa.

Entretanto, e com a minha cama a exercer sobre mim aquela força que só dois pólos iguais de um íman produzem, rumei a Azurém, àquele que é o mais exótico bar da Velha Europa Civilizada. Confesso que, como estava um bocado engripado, receei que o choque térmico da mudança de latitude pudesse ter efeitos nefastos na minha debilitada saúde, mas qual quê? Rejuvenesci! A entrada, decorada com um papel de parede com ilustrações de cachorros quentes decepcionou-me um bocado. Pensava que me iria reencontrar com o cheiro a fritos, mas nem vê-los (ou cheira-lo neste caso). O espaço e as pessoas transpiram (literalmente) uma mistura de Baywatch, Caribe, Nordeste Brasileiro e Ilha de Luanda! A decoração é brilhante, não faltando palmeiras, cadeiras de life-guards, tubarões, pranchas de surf, barcos, abacaxis e outras frutas tropicais, e até, pasme-se, colares coloridos para os clientes, num gesto de integração dos pouco viajados por essas latitudes, que registei com especial agrado. A música alterna entre o forró, samba, kuduro, kizomba, zuke e 80/90’s com uma ginástica genial do DJ no alinhamento perfeito de tão diferentes géneros musicais. O staff irrepreensivelmente vestido para tais temperaturas é de uma simpatia anormal, não hesitando em interagir com os clientes, saltando para cima dos balcões e gingando umas fantásticas coreografias, que aos poucos, os clientes iam digerindo até entrar tudo numa espécie de delírio colectivo, num ulular perfeito que corria toda a pista de dança. Vi, com a típica relutância que os portugueses têm a estas inovações, a introdução do conceito de casas-de-banho mistas. A menina que vi entrar no espaço anteriormente dedicado ao sexo masculino, também devia estar relutante, porque ia acompanhada por um quase desnudo e musculoso bar-man. Inclusive, até aquela parte mais privada (onde residem os tronos de porcelana) ele a acompanhou, talvez para lhe segurar no copo enquanto a menina satisfazia as suas necessidades. Gente boa e prestável esta que vem dos trópicos. Pareceu-me despropositada a imposição muito brasileira do anti-topless. Notava-se que as bar-maids, apesar das suas já reduzidíssimas roupas, tirariam de bom grado a parte de cima do bikini, que aquilo são temperaturas desumanas para trabalhar. Se quiserem eu assino a petição! Pareceu-me também que, a, como é conhecida de todos, “parte de cima do século”, estar fechada ao público é um desgoverno de espaço. Deixo a minha sugestão. Faziam lá uns quartitos para a malta descansar uma meia-hora de tamanha diversão, podendo até ser oferecido o serviço de contadores/as de histórias, prestado pelo staff, desde que para tal fossem instruídos! Se adoptarem a minha ideia, eu rejeito os royalties a que tenho direito!
E assim terminou uma inesquecível noite no Berço, não sem antes degustar um cachorro n’ Os Vitorianos, que trazia um ingrediente a saber a ranço, que até hoje não consigo precisar qual era, no meio daquela amálgama de iguarias!
Viva Guimarães e a sua diversidade nocturna!

3 comentários:

Paulo Saraiva Gonçalves disse...

E eu que estava a pensar em contar as minhas incipientes aventuras na zona do Lago di Garda...
Depois desta tua prosa, nem sei se deva. Estás em grande Lipnho!

Ricardo Machado Gonçalves disse...

Meu Amigo,

Descrição da típica noite Vimaranense, descontando o consumo de parte significativa da Escócia e de ultimos repastos não em roulottes, mas no excelente "2 Arcos", que a minha presença significaria.
O resto subscrevo, e acho lamentável a falta de ocupação de espaço disponível no andar de cima do "falecido" Século XIX.

Até porque poderiamos muito bem adoptar o lema do teléferico e aplicá-lo ao Espaço:

"La Movida...um sobe e desce de emoções....."

Aguardemos melhores dias....

Abraços

Filipe Matos Lage disse...

Paulinho,

Bota lá essas aventuras! Tenho a certeza que os "Sapateiros" que te acompanham já te brindaram com um recital de short stories para contar

Caro Ricardo,

Realmente essa outra noite que falas, foi também memorável. Escusado será dizer que comparar as moelas e rojões do referido espaço e o rançoso cachorro d' Os Vitorianos, seria como diz um amigo nosso, comparar a obra prima do mestre com a prima do mestre de obras!

Se bem que no caso particular das primas, eu optava sempre pela do mestre! Não sei porquê, mas nunca fui muito dado às artes.

Quanto ao slogan sugerido está APROVADISSIMO! Muito bom "meismu" (do léxico da menina que aparece nas fotos)!

Embrácios